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Cirurgião plástico é acusado por pacientes e se torna réu por violação sexual mediante fraude em Presidente Prudente

Sexta, 30 de Set. de 2022
Fonte: G1

Justiça acatou uma denúncia do Ministério Público do Estado de São Paulo (MPE-SP) contra João Paulo de Almeida Lopes após mulheres registrarem boletins de ocorrência.

O médico cirurgião plástico João Paulo de Almeida Lopes, de 46 anos, é acusado por duas pacientes de ter abusado sexualmente de ambas mulheres, em seu consultório, localizado no Jardim Paulistano, em Presidente Prudente (SP).

As histórias das vítimas, que não querem ser identificadas, levou a Justiça a tornar réu o médico por violação sexual mediante fraude, após o recebimento de uma denúncia feita contra ele pelo Ministério Público do Estado de São Paulo (MPE-SP).

Ele é apontado pela Polícia Civil e pela Promotoria de Justiça como responsável por ter cometido crimes sexuais.

“Ele não pode usar do cargo que ele tem, da formação que ele tem e fazer outras vítimas. Para mim, isso não é um médico. Para mim, isso é um monstro. Porque o que ele faz não é coisa de um ser humano fazer”, relatou a primeira mulher a denunciar Lopes.

A vítima registrou um Boletim de Ocorrência em julho deste ano, depois de ter passado por uma consulta para analisar os resultados de uma cirurgia plástica, em Presidente Prudente.

Ela disse para a polícia que uma enfermeira sempre acompanhava os exames, mas, no dia do ocorrido, a paciente ficou sozinha no consultório com o médico. A vítima relatou que o cirurgião plástico a instruiu a fazer um procedimento íntimo, momento em que o abuso teria sido cometido.

“Ele falou que eu precisaria fazer uma cirurgia íntima quando eu ficasse um pouco mais velha, porque talvez eu não sentiria mais prazer. Ele falou assim: ‘Agora existe um novo procedimento, tem um spray que a gente usa para lubrificar, só que ele ainda está em fase de experimento’. Perguntou se eu queria usar e eu falei que sim, mas que eu poderia comprar. Ele falou que não, que ainda não havia para comprar, mas que, se eu quisesse, ele poderia passar em mim para ver se tinha alguma eficácia”, disse a vítima.

Foi assim que, segundo o relato feito aos policiais, começaram os abusos.

“Ele mesmo acabou abaixando a minha calça até para baixo do joelho um pouco, e foi quando ele falou que precisaria massagear o meu clitóris, porque precisaria ficar inchado, senão, o spray não faria efeito. Falei para ele que não, que eu não concordava porque estava sendo constrangedora aquela situação, que eu não queria, que era para ele parar. Para ele parar, eu tive que falar para ele que eu tinha tido o orgasmo, eu tive que falar: ‘Não doutor, chega, já consegui, já fiz’. Aí ele falou: ‘Ele vai valer por 30 dias e, se você quiser na próxima consulta, você volta e a gente repete tudo de novo. Só que você não comenta com ninguém sobre esse spray, porque senão vai vir muita gente aqui querendo e eu não tenho como fornecer para ninguém’, citou. 

“Eu quero que a justiça seja feita. O que tiver que fazer, que ele seja preso. Ou o que tiver que ser feito e que ele pague”, finalizou a vítima.

'Ele começou a me manipular de forma estranha', lembra vítima

A denúncia feita por ela não é a única que envolve o médico João Paulo de Almeida Lopes. No ano passado, em 2021, uma outra mulher, que também não quis ser identificada, procurou a polícia e registrou um Boletim de Ocorrência contra o cirurgião plástico.

A segunda vítima relatou uma história semelhante à da primeira mulher que o denunciou, dizendo que também lhe foi ofertado um método cirúrgico na região íntima.

“A gente estava conversando ali na sala ao lado, já no escritório dele, a enfermeira já havia se retirado e ele falou desse novo procedimento na região íntima. Ele pediu que eu voltasse para a sala ao lado, na sala de consulta, onde fica a maca. Foi dali que ele começou a me manipular de forma estranha. Até que eu falei para ele parar, levantei da maca e falei que ele tinha abusado. Ele, na maior cara de pau, virou e falou: 'Mas foi tão ruim assim?’, contou a segunda mulher a registrar o Boletim de Ocorrência.

'Estelionato sexual'

O primeiro caso de denúncia contra o médico havia sido arquivado, a pedido do Ministério Público, por falta de provas. Mas, depois que a segunda mulher procurou a polícia e novas investigações tiveram início, ele foi desarquivado. Agora, os dois casos foram alvos de uma denúncia feita pela Promotoria à Justiça.

No entendimento da Polícia Civil e do Ministério Público, o médico cometeu o crime de violação sexual mediante fraude, também conhecido como "estelionato sexual". Nesse tipo de crime, uma pessoa se aproveita da confiança da outra, como, por exemplo, na relação entre médico e paciente, e usa isso para enganar a vítima. Ela só percebe que está sendo alvo de abusos quando eles já estão acontecendo.

A pena para o crime de violação sexual mediante fraude é de dois a seis anos de prisão.

Segundo a advogada Natália Karolensky, os crimes sexuais são de diversas naturezas e costumam não deixar rastros.

“Muitos dos casos sexuais não deixam registros. Crimes sexuais, pela sua própria natureza, não ocorrem mediante apenas a conjunção carnal. Existem diversos outros atos libidinosos que não vão deixar rastros. A regra é que um crime de natureza sexual ocorre às escondidas. Raras vezes se tem um meio de prova gravado”, ressaltou a advogada.

Segundo a advogada Aline Escarelli, que representa um movimento de defesa das mulheres, é importante que a vítima denuncie para que a justiça seja feita.

“Não romper o ciclo de silêncio, a dor é perpetuada. Então, a pessoa que não denunciou não vê a justiça sendo feita, que o agente abusador tem a certeza da impunidade, ela vai ter com frequência esse trauma e essa dor”, ressaltou Aline.

O que diz o médico

A equipe de reportagem da TV Fronteira foi até o consultório do médico, mas foi informada de que ele não estava no local no momento. A pessoa que atendeu a equipe repassou o telefone dele para que a TV Fronteira entrasse em contato. 

Desde quinta-feira (28), a equipe da TV Fronteira entrou em contato com o médico João Paulo de Almeida Lopes pelo telefone indicado por meio de ligação e por mensagem de texto.

Nesta sexta-feira (29), o cirurgião plástico informou, por meio de mensagem, que não iria se manifestar sobre o assunto.

O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) informou à TV Fronteira que ainda não tem conhecimento das denúncias contra o cirurgião plástico João Paulo de Almeida Lopes.

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